Refletindo sobre minha própria experiência ao ler um livro de ficção com grande apelo popular, fiquei intrigada com o poder da arte de contar histórias para promover reflexão e engajamento.
Recentemente, li um dos livros mais famosos da escritora canadense L.M. Montgomery, Anne of Green Gables. Foi uma experiência muito agradável. Eu me diverti várias vezes ao ler episódios engraçados com os personagens infantis da trama. Além disso, preciso confessar que fiquei emocionada ao ler uma narrativa da Primeira Guerra Mundial escrita na perspectiva de mães, filhas e esposas canadenses que enviaram seus amados para morrer ou voltar emocional ou fisicamente doentes. Por fim, fiquei impressionada com o fato de que uma história de ficção escrita há mais de 100 anos, conseguiu me manter engajada o tempo todo e olhe que tenho plena consciência de que me envolvi emocionalmente com personagens fictícios.
Ao finalizar a leitura do livro, movida pela curiosidade, tive a idéia de aplicar a técnica de design thinking para desenvolvimento de conceitos e analisar resenhas de leitores de três livros bastante populares. A ideia era buscar os elementos-chave da arte de contar histórias que fazem com que leitores de diferentes gerações fiquem profundamente conectados lendo as mesmas histórias.
Meu objetivo principal com este exercício era descobrir como eu poderia melhorar minha habilidade de comunicação com interlocutores de ambientes não-ficcionais usando os elementos-chave da arte de contar histórias de ficção.
O exercício de design thinking não foi muito extenso, mas me trouxe vários insights. Seguem abaixo os livros escolhidos para o exercício.
- Anne of Green Gables – Coleção Completa – L.M. Montgomery
- Harry Potter e a Pedra Filosofal – J.K. Rowling
- Assassinato no Expresso do Oriente – Agatha Christie
Na aplicação da técnica de desenvolvimento de conceitos, como primeira etapa coletei as resenhas dos leitores que me serviram de fonte de informação.
Na segunda etapa, as informações coletadas foram agrupadas em categorias para a iniciar a reflexão sobre os inputs mais relevantes. Para esse exercício defini dez categorias diferentes de acordo com o tema central de cada resenha. As categorias definidas para esse exercício foram: apelo emocional, mudança de vida, personagens atraentes, ambientes atraentes, trama envolvente e viciante, agradável, o leitor se sente parte da história, atemporal e para todas as idades, surpreendente e intelectual.
Na etapa três, as redundâncias foram eliminadas e as revisões dos leitores foram então agrupadas em dois grandes grupos: elementos de conexão intelectual e elementos de conexão emocional. Desses dois grupos, algumas idéias foram sumarizadas:

Percebi que as melhores histórias de ficção parecem conectar os leitores intelectualmente e emocionalmente. Se uma história captura os leitores apenas por um desses elementos, eles não se sentem totalmente envolvidos com a história e perdem o interesse facilmente.
Boas histórias têm personagens bem descritos e que são emocionalmente relacionáveis com os leitores porque experimentam os mesmos sentimentos humanos de excitação, esperança, alegria, perda e tristeza.
A identificação entre personagens e leitores através dos sentimentos semelhantes permite que os leitores desempenhem um papel na história como se fossem personagens adicionais que se mantém como silenciosos observadores.
Além disso, é interessante notar que os ambientes fictícios quando bem descritos, parecem tão realistas que os leitores podem se imaginar no mundo fictício e dessa forma escapar momentaneamente de seu mundo real.
Em uma analogia simples comecei a refletir sobre as narrativas que desenvolvemos nos ambientes de trabalho, especialmente aquelas que devem contar a história dos projetos de mudança. Geralmente focamos exclusivamente na criação de uma conexão intelectual com o público alvo. Assumimos que, no ambiente trabalho, as pessoas estão interessadas em informações analíticas e confiamos na persuasão intelectual para engajá-las. No entanto, ao descartarmos os elementos humanos da conexão emocional, nossas mensagens se tornam corretas, mas frias e desinteressantes e como resultado usualmente perdemos a conexão com as pessoas que gostaríamos de engajar.
A principal lição deste exercício para mim foi que para criar impacto e engajar pessoas com uma mensagem, não é preciso ter o talento de uma escritora famosa, mas é importante criar histórias com narrativas envolventes tendo o cuidado de incluir sempre os elementos de conexão intelectual e emocional. Esses dois elementos juntos garantem um forte poder de conectar o público alvo com a mensagem, estimulando a reflexão que leva as pessoas a tomarem uma atitude de mudança.
Liedtka, J., Ogilvie, T., Brozenske, R.. (2019) The Designing for Growth Field Book a step-by-step prject guide. Columbia University Press. (c). ISBN 978-0-2311-8789-3.
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