“A Cultura está para uma organização como a Alma está para um indivíduo”*

Vivemos dias acelerados e é fácil observar que em vários setores, incluindo o setor de saúde, agendas individuais acabam ganhando prioridade e mais atenção que agendas coletivas. Nossa sociedade está doente e conscientemente ou não somos todos afetados pelos acontecimentos que nos cercam.

Se a sociedade está doente, os ambientes organizacionais não estão blindados e imunes. Em todos os círculos sociais os comentários são semelhantes, indivíduos mencionam desmotivação por excesso de trabalho, lideranças parecem estar desconectadas da realidade da operação, falta apoio de superiores e colegas além do sentimento de desvalorização das contribuições individuais ou coletivas. Neste contexto, objetivos inalcançáveis em ambientes de trabalho repletos de baixo nível de comprometimento expõem organizações doentes.

Como profissionais do setor de saúde, algumas perguntas se interpõem: Que princípios estamos cultivando no ambiente de trabalho? Que cultura estamos construindo nos ambientes de trabalho que consomem nosso maior tempo de vida ? Qual a missão nos compele a fazer mais e melhor ?

É muito impactante para mim a frase do Dr. Henry Mintzberg citada no princípio desse post.* É profundo pensar que a Cultura está relacionada a uma organização da mesma forma que a Alma para um indivíduo porque um indivíduo sem alma é um ser vazio.

Mesmo imbuídas da nobre missão de cuidado ao paciente se as organizações no setor de saúde não zelarem por suas Culturas, terão colaboradores correndo de uma lado a outro, pressionados por inúmeros prazos e restrições orçamentárias sem energia e motivação para investir nas melhorias que refletem os princípios que queremos para as nossas vidas e nossa sociedade.

Como estímulo ao fomento de bons princípios de convívio em nossas organizações, o convido a refletir sobre um conceito do Dr. Henry, Mintzberg, detalhadamente descrito no livro “Managing the Myths of Health Care”*.

É o conceito de Communityship, uma palavra que não existe no inglês e também não tem uma tradução para o português. Comunityship expressa um espírito de engajamento coletivo onde todos têm igual valor para o cumprimento da missão independente de títulos ou posições.

Se valorizamos Communityship, a missão sobrepõe as estruturas hierárquicas, a liderança é focada em cultivar uma atmosfera de promoção de confiança, líderes se mostram engajados e engajam outros, performances são medidas com moderação e bom senso, a organização é mais coletiva que indivdualizada e portanto a Cultura organizacional se desenvolve de forma saudável e sustentável.

Communityship para as organizações implica numa visão colaborativa, humana, onde o engajamento se dá por comprometimento pessoal de todos.  Com objetivos alinhados e foco numa missão relevante é possível construir um futuro saudável, equilibrado e socialmente responsável.

*Extraído de Henry Mintzberg “Managing the Myths of Health Care” Berrett-Koehler Publishers, Inc (2017) ISBN 9781626569058 pg. 188

 

Caro leitor, no texto abaixo você vai ler uma história inspiradora escrita por minha escritora convidada Esther Khor que demonstra como uma iniciativa focada na communidade pode melhorar a qualidade vida do indivíduo e da comunidade.  Leia e comente !

 

Tecnologia e Independência

por Esther Khor I Junho 14, 2018 I Escritora Convidada

Quando você pensa em independência deve pensar em autonomia mas você costuma associar independência com tecnologia ? Provavelmente não, mas para muitas pessoas tecnologia se tornou uma ferramenta de suporte à independência.

Meu amigo Walt Lawrence estará celebrando 50 anos de vida sendo mecanicamente ventilado. Sua luta pessoal começou em 1968, quando ele sofreu uma lesão na medula espinhal devido a um acidente de mergulho raso. Aos 17 anos, ele era um jogador de hóquei atlético trabalhando para a conseguir sua licença de piloto comercial.

Depois da lesão, Walt ficou paralisado do pescoço para baixo. Ele foi inicialmente colocado em um pulmão de ferro para auxiliar em sua respiração. Para muitos indivíduos sem função respiratória, era típico ser confinado no pulmão de ferro a noite toda. Durante o dia, uma cama de balanço seria usada por 8 horas para manipular o diafragma e garantir a expansão torácica. No caso de Walt não era diferente e ele ficava na cama balançando para frente e para trás para respirar.


Pulmão de Ferro (noite)                 Cama de Balanço (dia)

Durante esse período, Walt sentiu-se “dependente da Instituição” devido às suas necessidades de ventilação. Essa vida institucional não era para ele. Walt queria viver em comunidade, mas mais que isso, ele acreditava que poderia contribuir com a comunidade.

Como a tecnologia no cuidado respiratório evoluiu, ventiladores menores tornaram possível a saída de pacientes como Walt das Instituições. Com o apoio de sua família e amigos, Walt deixou a instituição e saiu com uma visão para melhorar a jornada de volta para casa de muitos outros pacientes em circunstâncias semelhantes.

Walt, junto com seus muitos colegas ventilados, liderou um programa sem fins lucrativos para apoiar a independência de pacientes na vida em comunidade.

Seu programa sem fins lucrativos tornou-se o primeiro programa de alcance respiratório da Columbia Britânica para indivíduos que precisavam de ventilação mecânica e independência na comunidade. O programa de extensão tornou-se uma plataforma única onde os usuários do programa estavam envolvidos em compras de equipamentos respiratórios, faziam a orientação dos demais colegas do programa e participavam no conselho de administração. Por mais de 15 anos, os usuários do programa reuniram-se e dedicaram suas muitas habilidades em estratégia, contabilidade, aconselhamento e conhecimento legal para gerenciar o programa de divulgação.

Melhorias rápidas com tecnologia causaram um impacto significativo na independência de Walt. Ele agora tem um ventilador que pesa pouco mais que 5 kg e tem acesso a uma máquina de assistência à tosse que remove as secreções dos pulmões. Nos últimos anos, outros itens tecnológicos, como o Goggle Home, permitiram que ele tivesse maior controle de seus dispositivos domésticos. Com o Goggle Home, Walt pode verificar os preços de suas ações, abrir a porta, ouvir seu livro favorito e se conectar com sua família com facilidade. A tecnologia já percorreu um longo caminho desde a década de 1970 como também a presença e influência de Walt tem contribuído para o avanço da sua comunidade.

ventilador portátil que facilita as viagens        Google Home pareável com os dispositivos domésticos

Walt tem doutorado em Advocacia e atua ativamente como conselheiro de defesa de pacientes com lesão medular no GF Strong Center em Vancouver, BC. Ele também está no conselho da escola de ensino médio que suas filhas frequentam. Os  50 anos de Walt vivendo com  suporte  de ventilação e sua concomitante atuação na criação de serviços na comunidade são um marco histórico. É  definitivamente um excelente motivo para celebrar.