Depois de ler diferentes artigos sobre inovação, percebi um tema recorrente; ideias transformadoras por si só não são suficientes para promover inovação. Além disso, muito tem sido dito sobre a necessidade de expertise na implementação de ideias transformadoras, pois é o sucesso na implementação de boas ideias que garante a criação de inovação com impacto real e positivo para a comunidade.
A reflexão sobre esse tema despertou minha curiosidade para descobrir quais são os elementos-chave na criação de um ambiente perfeito para o desenvolvimento de ideias inovadoras além do pleno entendimento da correlação entre inovação e cultura de aprendizagem.
Neste post, convido você a refletir sobre quatro elementos de culturas de aprendizagem que são cruciais para explorações bem-sucedidas em navegação, essenciais no processo de criação obras de arte disruptivas e me parecem igualmente importantes para promover a inovação em diferentes ambientes de trabalho.
1. Curiosidade
“O aprendizado pode acontecer todos os dias no escritório, se cultivarmos a curiosidade sobre o que funcionou e o que não funcionou. Em vez de um jogo de culpa, reduzimos nossas defesas e aprendemos com as experiências”. Morag Barrett e Linda Sharkey.
Amyr Klink, o mais famoso navegador brasileiro menciona em entrevistas que sua curiosidade em entender o fracasso de outros navegadores em tentativas frustradas de aventuras náuticas foi essencial para o planejamento e execução bem sucedidas de sua travessia solitária num barco a remo durante 100 dias da África do Sul até o Brasil em 1984.
A curiosidade pode ser aleatória e não precisa de uma agenda específica. Basta nos sentirmos intrigados a entender mais sobre assuntos que não estão necessariamente relacionados às nossas rotinas atuais e nos motivam a explorar o tema. Como resultado, descobrimos novas possibilidades e ganhamos conhecimento que geralmente nos fascina e captura nossa atenção.
A curiosidade abre possibilidades para a inovação à medida que conectamos pensamentos que parecem opostos ou desconectados, e nos permite imaginar maneiras diferentes de executar nossas tarefas agregando mais valor ou no mínimo executando de forma mais prazerosa.
2. Tolerância
“A aprendizagem ocorre naturalmente quando nem nos damos conta de que estamos aprendendo, é aprender como fazer através de tentativa e erro, através da observação e da prática” John Burgoyne
Um ambiente de aprendizado exige tolerância, porque o fracasso é inevitável se pretendemos criar algo novo. É o entendimento dos motivos do fracasso que nos faz avançar em direção ao sucesso. Ao longo da história, encontramos vários exemplos de produtos inovadores que surgiram de falhas, o microondas, o raio-x, a penicilina e muitos outros. A inovação requer uma abordagem positiva dos erros produzidos no processo de criação. A reflexão e a síntese sobre os erros geram insights importantes, pois produzem aprendizado. Como diz o professor Mintzberg“… quanto mais inovadora a organização, maior a probabilidade de surgirem distúrbios inesperadamente …”
3. Apreciação do Processo
O processo de aprendizagem não é linear, é iterativo e descontínuo. Às vezes, avançamos 3 etapas em um ciclo e retrocedemos 4 etapas no ciclo subsequente, porque o aprendizado e a inovação implicam que a descoberta emerge com a experiência.
Recentemente, vi uma exposição de arte de linogravuras de Picasso no museu rRemai mModern, mostrando não apenas a pintura final, mas as pinturas intermediárias produzidas no processo de construção da obra de impressão. É mágico ver a progressão do design e imaginar o que Picasso visualizou para a peça final no processo de construção da obra de arte.
Na busca pela inovação, as pequenas conquistas intermediárias alcançadas durante o processo nos guiam em direção ao objetivo final e é a apreciação da jornada que mantém o foco e a motivação do começo ao fim.
4. Foco nos resultados coletivos
Para promover um impacto positivo com inovação é essencial priorizar os resultados coletivos e envolver todos os membros da equipe para trabalhar em colaboração. Além disso, na busca por algo novo, o engajamento emocional de cada membro é crucial para criar um ambiente saudável, onde as pessoas possam liberar todo o seu potencial para a conquista coletiva. De acordo com o professor Mintzberg “Uma organização profissional que funciona bem não é apenas um conjunto de especialistas capazes; é uma comunidade de membros engajados”.
1. Barrett, Morag; Linda Sharkey, 2017, The Future-Proof Workplace: Six Strategies to Accelerate Talent Development. Reshape your Culture, and Succeed with Purpose. John Wiley & Sons, Incorporated.
2. Mintzberg, Henry, 2009, Simply Managing: what managers do and can do better. ISBN978-1-60994-923-5, Berrett-Koehler Publishers, Inc.
3. Mintzberg Henry, 2017, Managing the Myths of Health Care. Berrett-Koehler Publishers, Inc.
4. Systems Leadership Steering Group, 2015, The Art of Change Making, ISBN 978-0-9931400-9-9, The Leadership Centre
Photo credit: Ken Whytock on VisualHunt.com / CC BY-NC