Vivemos tempos de opiniões assertivas, em alguns casos até mesmo extremadas, tornando uma doméstica discussão familiar num embate de idéias carregado de emoções. Pensando nesse contexto bastante atual, gostaria de convidá-lo a refletir sobre o processo mental pelo qual construímos nossos julgamentos acerca dos acontecimentos que nos circundam.

Sempre que observamos um acontecimento, nossa observação vem carregada de algum nível de interferência emocional. Algumas vezes as emoções evocadas são positivas, uma vez que o cérebro humano faz associações de momentos novos com experiências antigas, então cenas que nos recordam de bons tempos de infância, por exemplo, nos trazem um sentimento positivo que de certa forma nos condiciona a olhar o novo acontecimento de forma positiva.

O contrário também é verdade, alguns novos acontecimentos do dia a dia podem evocar sentimentos negativos vivenciados em situações semelhantes no passado. Motivados por lembranças negativas, por vezes, reagimos mal e impulsivamente não porque o novo acontecimento nos cause dor, sofrimento ou ameaça, mas simplesmente porque o cérebro registrou no passado uma experiência semelhante que foi ruim e nos leva a agir de forma protetiva.

“Nossos desejos e necessidades distorcem em um grau desconhecido, o que nós percebemos” Edgar H. Schein

Além dos filtros emocionais que as experiências anteriores nos trazem, como menciona Edgar H. Schein, as necessidades correntes distorcem nossa capacidade de percepção objetiva. Interagindo e trabalhando em ambientes de diversidade cultural, temos que lidar com necessidades e experiências diferentes, e consequentemente, enfrentamos novas situações que se apresentam de formas mais complexas e desafiadoras para se avaliar.

Será que podemos evitar as distorções de julgamento advindas de atuais necessidades ou experiências anteriores ao lidar com as novas situações propostas na vida pessoal ou profissional ? Para esse post, proponho a reflexão focada em dois aspectos:

Consciência de nossas emoções

É um conselho comum que se queremos manter uma boa relação social em comunidade, não devemos demonstrar nossas reações emocionais de forma muito explícita. Como consequência, nem sempre tomamos consciência das emoções que as circunstâncias de vida e trabalho nos evocam. Aceitar e entender os sentimentos nos ajuda a evitar que uma reação emocional não compreendida nos cause desconforto social.

Conforme mencionado pelo professor Edgar H. Schein “Não é a impulsividade por si só que nos causa dificuldade – É a ação impulsiva que não é conscientemente compreendida e portanto, não avaliada antes da ação, que nos causa problemas”

Curiosidade Genuína

Outro elemento que nos faz reagir de forma extremada é a ausência de curiosidade genuína pelo tema a ser discutido ou pela opinião do outro. A falta de interesse em explorar um pensamento ou idéia diferente da nossa nos coloca numa bolha onde passamos inconscientemente a reter apenas os aspectos que somos capazes de dialogar em algum nível, perdendo a riqueza de detalhes que nos permitiria uma percepção mais acurada dos acontecimentos.

…a parte mais perigosa do ciclo* é o primeiro passo, onde nós assumimos que o que nós percebemos em nossa observação é válido e suficiente para agir”. Edgar H. Schein

A falta de curiosidade genuína nos leva a agir ou reagir a partir de conclusões precoces construídas com base em nossas percepções superficiais muitas vezes distorcidas. Assim caímos em uma armadinha que nos leva a uma sucessão de experiências ruins no desenvolvimento de nossos relacionamentos pessoais e profissionais.

Há inúmeras formas de evitar os vieses de percepção que limitam nossos julgamentos, mas creio que nossos relacionamentos terão muito a ganhar se estivermos dispostos a aceitar e entender nossos sentimentos como também de desenvolver uma genuína curiosidade pelo outro.

Caro leitor, se o tema lhe interessa, segue a sugestão do livro de Edgar H. Schein que comento nesse post “Humble Inquiry – The gentle art of asking instead of telling”. Agora é a sua vez, deixe seu comentário sobre o tema!

 

 

*Referente ao Ciclo ORJI – Observação, Reação, Julgamento e Intervenção. Extraído do Schein, E.H. “Humble Inquiry”, página 90. 

Crédito da Foto de Ilustração do post: slimcloudy on Visualhunt.com