Já a alguns anos atuando como gestora de pessoas, sou uma entusiasta do gerenciamento de equipes com foco nas fortalezas individuais. As organizações tradicionalmente são focadas nos modelos de gerenciamento baseados em solução de problemas e tendem a se concentrar na identificação de gaps ao invés de fortalezas individuais. O resultado desse modelo muitas vezes é o esvaziamento da energia e motivação dos colaboradores que tentam melhorar a performance em seus pontos fracos sem perceberem significativa evolução.
O gerenciamento com foco nas fortalezas individuais é transformador na experiência dos indivíduos, uma vez que, cria espaço para o desenvolvimento pessoal e gera auto conhecimento de talentos individuais. Ao investirem energia no desenvolvimento de seus talentos, os colaboradores otimizam a execução de tarefas diárias, o que gera uma experiência de performance inspiradora e motivadora.
Em alinhamento com o gerenciamento de fortalezas individuais, compartilho nesse post o modelo de Investigação Apreciativa, um conceito advindo da psicologia e do coaching que propõe uma visão de gestão com foco nas fortalezas coletivas e que certamente pode ter um impacto tremendamente positivo na liderança de equipes no setor de saúde.
Pense por um minuto naquele projeto em que o grupo parecia estar em sintonia perfeita, em que todos trabalharam arduamente e os resultados coletivos foram extraordinários. A proposta da Investigação Apreciativa é elaborar perguntas elucidativas e explorar quais foram as fortalezas e comportamentos do grupo que tornaram possível o atingimento de um resultado tão positivo. À partir daí é possível planejar a melhor utilização das fortalezas e comportamentos coletivos para replicar a experiência em novos projetos e processos.
O conceito de Investigação Apreciativa não é novo, ele foi publicado em 1987 no artigo de David Cooperrider e Suresh Srivasta. A aplicação do conceito demanda conhecimento das etapas da Investigação Apreciativa. Sem querer simplificar um modelo tão elegante, sumarizo a seguir as etapas apenas para inspirar aplicação prática. O modelo consiste no ciclo dos 4Ds, Descoberta, Sonho ( do Inglês – Dream ), Design e Destino.
A ideia é que na primeira etapa, a Descoberta, seja feita a identificação e descrição detalhada do momento onde a equipe agiu de forma espetacular. Ao aplicar o modelo junto a sua equipe, tente olhar para o período de no máximo um ano antes da data da investigação e ficará mais fácil evidenciar os detalhes de competências e comportamentos presentes no grupo que fizeram a diferença num evento que gerou resultado extraordinário.
Quando já estiverem bem claras as competências e comportamentos que foram essenciais para o sucesso da equipe é hora de visualizar as possibilidades de aplicação dessas competências e comportamentos para replicação dos resultados em novos projetos ou melhoramento de processos. É interessante notar que o autor do modelo nos convida a Sonhar. De fato, visualizar uma inovação é mesmo um sonho.
Na fase do Design vem o planejamento. É necessário ir além da visão do futuro e desenhar etapas da execução, alinhar competências, comportamentos e ações. Esse é o momento de simular a implementação de processos novos ou atividades novas em processos já existentes e sempre com foco na concretização do que foi visualizado na etapa do Sonho.
O mais interessante na Apreciação Investigativa é que ela seja feita pela equipe toda, de forma que a etapa de Design seja percebida como factível por ser construída sobre competências e comportamentos já existentes no grupo. Com a percepção de que a ideia de inovação é viável, a etapa do destino depende da motivação de cada integrante para execução e realização dos planos já desenhados.
Caro leitor, no texto abaixo você pode ler sobre aplicação prática do modelo de Investigação Apreciativa. Confira o testemunho de uma líder que aplica o modelo no seu dia a dia de gestão. Minha convidada para esse tema é a Dra. Nadia Ismiil.
Mulheres na liderança
por Nadia Ismiil I May 17, 2018 I
Meu nome é Nadia Ismiil, uma líder médica e patologista com especialidade em patologia ginecológica; uma educadora, esposa e orgulhosa mãe de dois filhos. Eu sou produto de um bonito, mas devastado país e imigrei para o Canadá em 1992. Eu sou uma líder silenciosa e hesitante. Fui colocada num ambiente instável e tempestuoso do laboratório de medicina de uma grande instituição e sobrevivi para contar a história. Hoje, nosso departamento é um modelo de estabilidade e inovação. As feridas foram curadas e as marcas são apenas uma recordação. Para todos os líderes e leitores desse blog pergunto, minha história lhe soa familiar? O que me leva a outra pergunta, o fato de que sou mulher fez a diferença ?
Eu poderia argumentar que como mulheres, nós colocamos nossas habilidades de negociação, capacidade de realizar muitas tarefas ao mesmo tempo, paciência e ouso dizer, nossas inseguranças. Nós nos disponibilizamos de alma e coração na busca da solução para os problemas e provamos de uma vez por todas, que somos fortes e capazes de enfrentar dificuldades mesmo que desafiadoras. Nós, mulheres, colocamos nossas experiências coletivas de longa data e enxergamos o potencial em cada um para um bem maior. Nós usamos nossos instintos primitivos para enxergar através da névoa e somos ferozes protetoras de nossos times.
Isso então significa que mulheres em posição de liderança são clones? Nunca!
Nós podemos ter características em comum mas somos pessoas e únicas. Meu estilo é quieto, de fala suave, uma líder apreciativa e servidora. Eu acredito no poder coletivo e em um modelo de colaboração interprofissional . Qual é o seu estilo?
Através de minha jornada, fui instruída por muitos. Meu pai foi um feminista que acreditava em mim e me suportava em cada passo do meu caminho. Ele me mostrou o valor do respeito próprio e a busca de sonhos mesmo quando eles parecem inatingíveis. Meu supervisor viu a força na observação silenciosa e também a necessidade para outros tipos de líderes além do estereótipo carismático. Ele me encorajou a fazer cursos de liderança e coaching executivo. Minha chefe, celebrou minha decisão de obter um título de Master Internacional em liderança no setor de saúde e me encorajou a escrever minha história e minha trajetória. Ela é minha heroína. Quem é o seu mentor?
Hoje, caros amigos, eu os convido a refletir na sua jornada como líderes e saudar a todas as mulheres e homens que abriram os caminhos a vocês.